Viver é também sobre perder

Na escola da vida, nos ensinam o tempo todo sobre ganhar: tirar a nota mais alta da turma, aprender a ler mais rápido que o colega, a ser campeão ou campeã de algum esporte, a encontrar a profissão dos sonhos, a lutar incansavelmente por um salário mais invejável, a comprar um imóvel onde caibam todas as nossas expectativas (e conquistas materiais, né?).

E neste livro da vida, sempre esperam que sejamos o herói da história.

Aguardam ansiosos para que ela se torne logo um bestseller e esgotem rapidamente das prateleiras.

Mas ninguém ensina como perder, a como lidar com as dores da perda, a como agir diante ao fracasso. Não é permitido pegar exame, a ser inimigo de um esporte (mesmo quando se é um mestre no xadrez, um leitor voraz ou dono de um coração gigante), a demorar anos para passar no vestibular…

Mas somos seres humanos passíveis de erros e nem tudo está sob o nosso controle (e isso nem é saudável, né?) .

A ferida aberta da dor da perda nos ensina – e não há Band-Aid ou sutura capaz de colocar o coração no lugar (aliás, sinto muito dizer, mas não há como mantê-lo intocável).

Desde que nascemos estamos perdendo… perdemos um lugar quentinho e aconchegante para nos aventurarmos pelas dores (e belezas!) das experiências da vida.

Mas vamos fazer um exercício: e se a gente mudasse nossa percepção sobre perder? Se não a colocássemos em um lugar ruim?

Veja só:

E se fosse sobre perder o medo do escuro?

E se fosse sobre perder um avião para encontrar um amigo que não via há anos em um novo voo?

E se fosse sobre perder um emprego que te fazia mal e investir numa carreira que te acalantasse a alma?

É uma questão de ponto de vista…

Por mais que você agarre tudo com unhas e dentes, pessoas, momentos e coisas ficam pelo caminho. É preciso (e urgente) praticar o desapego, afinal, tudo está em constante mudança.

E digo mais: são essas perdas que nos moldam, que constroem o nosso caráter e nos fazem evoluir. As perdas fazem parte do amadurecimento, da nossa capacidade de resiliência.

Saber perder é dar-se conta que é parte de nossa trajetória, é respeitá-la e orgulhar-se de que, apesar de tudo, estamos em movimento.

Respostas de 20

  1. “Saber perder vem até da insuportável dor de ver por momentos, dias, meses, anos… A dor de quem amamos. Na primeira vez que ocorreu porque não amo uma única pessoa ainda não tinha essa percepção. Mas pedi a Deus que fizesse o melhor. Nas outras ficou claro, quando se ama e há sentimentos de afeto, compaixão…. Você aprende que viver é também perder pois o sofrimento não vale toda a dor de quem sòfre ou mesmo a sua. Você entende o motivo da partida. E agradece o tempo em que pode viver junto. Ficam memórias e lembranças. Então se aprende a dar valor a fazer memórias e boas lembranças. Lógico que dói! Mas seu AMOR supera a DOR da ausência do corpo. Ouço as vozes, sinto os cheiros, as mãos, os abraços… As memórias! E perco mas agradecendo cada segundo vivido. Vale a pena!!! E com a dor se cresce como nenhum outro ensinamento.”

  2. Tu é um ser iluminado Ana estou aprendendo muito contigo tenho 63 anos sou muito ativa e com uma curiosidade sobre tudo.adoro ler.precisa ter no mundo mais Ana como tu.eu tenho uma Ana na minha vida e é muito iluminada .voraz por aprender.um bj no coração ❤

  3. Preparar para acolher a frustração é fundamental. Hoje vemos jovens e adultos que na primeira perda perdem o chão e muitas vezes recorrem ao suicídio. Triste isso! Desde cedo é preciso ensinar que na vida não só se ganha, também se perde… e como se perde. Bela reflexão!

  4. Dra!!! Vc e esses seus assuntos profundos que cutucam nossa alma!! Confesso que não é fácil acostumar com perdas, umas nos libertam e outras tiram nosso fôlego e eu como uma pobre mortal, não consigo me acostumar !! Adoro seus textos, aulas/ livres!! Obrigada por todo ensinamento e puxões de orelha!! Que Deus continue abençoando e iluminando vc!!

  5. Dr Ana Cláudia amo cada palavra dos seus livros, você com tanta humanidade está me ajudando a passar pelo meu luto(41anos de casada)e o coração cansado e sofrido do meu amor não aguentou mais e parou, eu fiquei e graças a seus livros ,seus textos vou passando meu deserto do luto . Gratidão por existir e mesmo sem conhecer te, muitas vezes me sinto abraçda por suas palavras.Deus te abençoe sempre 😘

  6. Dr Ana Cláudia gratidão por olhar para meu luto com tanta humanidade, fiquei viúva depois de 41 anos de casada,vi presenciei o sofrimento do meu esposo durante 20 dias uma hora entubavam outra hora tiravam o tubo.eu vivenciei 20 dias de desrespeito a um paciente,a família do paciente,o médico depois da cirurgia sumiu ,e o que me restou foi ler e ler seus livros como um apoio um abraço para eu não enlouquecer no meio de tanta dor e indiferença a minha dor.Gratidao por existir,e peço perdão pelo que vou lhe dizer mas entrando na UTI coronariana 3 vezes por dia, aprendi que enfermeiros(as) não respeitam a dor da família nem do paciente,e médico não entende nada de gente nem de morte pois até pra morrer temos que ter dignidade .Ler seus livros ouvir suas palestras me fizeram,seguir e tentar entender por que quando mais precisamos do médico ele some ele tem medo da morte.Dr Ana te amo ,Deus te abençoe pois o mundo ,o Brasil precisa muito de pessoas cheia de humanidade como você.

  7. Que sensacional. Achei esse texto muito necessário. Como é bom encontrar pessoas que colocam em palavras, em versos, em música aquilo que faz morada no fundo da nossa alma.❤️

  8. Deveríamos sim desde do nosso início sermos ensinados a viver e aceitar as perdas como parte da vida e com certeza muitas dores e sofrimentos nos seriam poupados.

  9. Maravilhoso , me ajudou neste dia de hoje quando acordei e ler isso foi incrível!! Perdi minha mãe e está sendo muito difícil…dias de medo e insegurança, ela era meu porto seguro e minha melhor amiga e companheira…uma palavra que resume valorizar tudo e todos. Parabéns 👏

  10. Boa noite Dra. Ana!
    Sempre uma aula ver e ouvir seus depoimentos e relatos sobre o seu trabalho tão lindo, penso que infelizmente
    algumas pessoas renascem para a vida após a morte de alguns entes queridos, e isso poderia ser evitado se as
    pessoas começassem a ver e entender a vida como ela é.
    Um dia partiremos, e que possamos deixar bons legados para os que ficam. Perdi a minha mãe em 2017 e graças as suas palestras e palavras os entendimentos vieram de uma forma bem mais suave e ótima para interpretar, que de fato quando amamos muito, é só o tempo para nos acostumar com a ausência física, pois sinto as vezes como se minha mãe estivesse do meu lado, morávamos distantes, mas falava com ela todos os dias. Que Deus continue abrilhantando o seu caminho e que várias pessoas possam ter o privilégio de ter contato com vc. Parabéns pelo excelente trabalho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *