Etarismo na família: respeitando nossos anfitriões na festa da vida e explorando o compartilhamento de memórias

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“Os idosos da sua família são pessoas que estão vivas há mais tempo do que você. Como você trata pessoas que chegaram antes de você na festa que adora e que se chama vida?”

Iniciamos a discussão sobre o etarismo, a discriminação baseada na idade, com essa provocação. Agora, quero, como médica geriatra, aprofundar a conversa falando sobre o etarismo e a importância da memória compartilhada dentro da família.

Em particular, vou me concentrar aqui nos desafios que o etarismo traz no âmbito familiar.

No mundo de hoje, onde a família ainda é o principal núcleo de convivência, é onde encontramos algumas das manifestações mais profundas de etarismo. Os idosos são frequentemente desconsiderados ou vistos como irrelevantes, suas opiniões são desvalorizadas ou são tratados de maneira infantilizada.

O impacto disso é enorme e varia desde a solidão até questões sérias de saúde mental, como depressão e ansiedade. Além disso, o isolamento social dos idosos é frequentemente um subproduto direto dessas atitudes discriminatórias.
Da perspectiva médica, o etarismo também pode ter implicações prejudiciais. Como médica geriatra, vejo como os sintomas físicos dos idosos podem ser minimizados ou atribuídos unicamente à “velhice”, o que, por sua vez, pode levar a diagnósticos atrasados ou tratamentos inadequados. Além disso, as preferências individuais dos idosos são muitas vezes ignoradas na hora de decidir os cuidados médicos.

No que diz respeito à economia, o etarismo pode resultar em desigualdades e falta de oportunidades. Os idosos podem ser forçados a se aposentar ou enfrentar discriminação no local de trabalho, tornando-os vulneráveis economicamente. Os custos elevados de saúde e cuidados de vida também podem exercer pressão adicional sobre as famílias.

No entanto, nem tudo está perdido. Podemos e devemos trabalhar juntos para mudar essas mentalidades. Começa com respeitar e valorizar a experiência e a sabedoria destas pessoas que estão na vida há mais tempo do que outras mais jovens que as desvalorizam ou não sabem como valorizar suas opiniões e necessidades, garantindo que eles tenham uma voz ativa nas decisões que afetam suas vidas. Também precisamos garantir que todos tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade e oportunidades econômicas, independentemente da idade.

O etarismo dentro das famílias é um desafio complexo, mas ao reconhecer e abordar estas questões, podemos começar a criar ambientes familiares mais inclusivos e respeitosos. Lembre-se, o envelhecimento é um processo natural da vida, e todos nós, se tivermos sorte, chegaremos lá um dia. Portanto, tratar nossos idosos com dignidade e respeito não é apenas uma questão de decência, mas também do nosso próprio futuro.

Muitas vezes, quando uma pessoa esquece de fatos importantes de sua vida, assumimos que ela pode precisar de ajuda ou de uma avaliação médica. Quando isso ocorre com pessoas mais velhas, geralmente imaginamos um quadro de demência ou algum outro problema cognitivo. Mas, e quando pensamos nas nossas próprias vidas? A maioria de nós não se lembra de muitos detalhes desde o dia em que nascemos até um certo ponto da infância. Este esquecimento é geralmente aceito como parte normal da vida.

Mas eis um pensamento interessante: as mulheres e homens mais velhos de sua família provavelmente têm em sua memória muitos detalhes do início de sua existência, coisas que você mesmo não se lembra. Eles guardam histórias e memórias de você, de tempos que para você são desconhecidos ou esquecidos. Portanto, por que não dedicar algum tempo para perguntar a eles o que se lembram? O que guardam em sua memória sobre a parte misteriosa do início da sua existência?

Isso não apenas os valoriza como detentores de uma parte importante da história de sua vida, mas também pode fortalecer o vínculo entre vocês e combater as atitudes etaristas. Através dessas conversas, podemos demonstrar o respeito e a valorização que eles merecem e, simultaneamente, enriquecer nosso próprio entendimento sobre nossas vidas.

Lembre-se: envelhecer é uma parte natural da vida e todos nós, se tivermos sorte, chegaremos lá. Os idosos, os primeiros a chegar na festa da vida, têm muito a compartilhar e merecem ser ouvidos e respeitados.

Espero que esta reflexão tenha estimulado algumas ideias e pensamentos. Se tiverem dúvidas ou quiserem continuar a conversa, sintam-se à vontade para comentar ou entrar em contato. Obrigada por ler e até a próxima!

8 respostas

  1. A maioria das pessoas não tem esse cuidado com os idosos , de conversar,lembrar da infância com eles , na primeira dificuldade já querem colocar em uma casa de repouso, muito obrigada por compartilhar esse texto eu aprendi muito nele. Gratidão 🙏 Deus te abençoe Dr.

  2. Existe um livro que chama “Vó, me conta sua história”. Meu filho comprou e deu o minha mãe. Foi muito legal para ela completar o livro, ela está muito esquecida, não preencheu tudo, mas ela disse q foi muito bom poder lembrar de coisas do passado.

  3. Super sua admiradora. Já fiz minha inscrição no seu próximo curso.
    Deus continue te Abençoando muito, pois, seus sábios e valiosos conselhos refletem num “dom” que foi dado à Sra/Dra e não foi à toa. Gratidão! ❤️

  4. Ontem comentava com o vizinho, sobre a entrevista de Dra Ana no programa Provoca, como foi bom! Ele cuida do pai, fará 100 anos daqui a uns meses. Agora li o artigo, vou repassar, depois procuro o link do programa. Valeu!

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