Resenha | A morte é um dia que vale a pena viver

Waverley Cemetery, Bronte, Austrália feita por Connor Meakins on Unsplash.

Resenho escrita por Angelo Faleiro e publicada em seu blog pessoal.

Algumas pessoas podem achar estranho o interesse em um livro sobre a morte. A maioria de nós não gosta de pensar nela, embora ela seja uma realidade. Gosto de meditar sobre a vida tendo a morte sob os holofotes. A consciência da finitude é angustiante, mas nos oferece uma perspectiva mais apurada sobre como deveríamos viver esta vida.

O livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, escrito pela médica Ana Claudia Quintana Arantes, é uma mistura bem elegante de conceitos relacionados a cuidados paliativos e reflexões sobre a vida diante da perspectiva da morte.

Gostaria que mais médicos lessem a obra para que procurassem proporcionar a kalotanásia, a bela morte. Meu avô sempre falava sobre isso (sem usar esse termo, é claro). Ele pedia a Deus uma boa morte. Infelizmente, não tenho certeza de que ele a teve.

Alguns termos usados por Ana Claudia vão demorar para sair da minha mente. Ela fala sobre “zumbis existenciais”, pessoas que vivem sem viverem, que estão ausentes de suas próprias vidas, sem conexão consigo e com os outros; para essas pessoas, só falta morrer fisicamente.

“Muita gente não está viva de fato, mesmo com o corpo funcionando bem. É uma coisa terrível. Pessoas que enterraram suas dimensões emocional, familiar, social e espiritual.” ~ Ana Claudia Quintana Arantes

Ana Claudia também usa a metáfora do muro para falar sobre a morte (imagem emprestada de William Breitbart, psiquiatra). De acordo com a ilustração, estamos vivendo, caminhando pelo mundo até que nos deparamos com um muro. Ao chegarmos ali, não há como voltar ou escalar. Só podemos olhar para trás.

“O que norteia nosso caminho e nos impele a fazer boas escolhas é a certeza de que, quaisquer que sejam nossos caminhos e escolhas, o muro nos aguarda.” ~ Ana Claudia Quintana Arantes

Ao abordar a dimensão espiritual diante da morte, Ana Claudia é feliz em chamar a atenção para a diferença entre acreditar e ter fé. Quando se acredita, existe um tipo de relação de troca em que a frustração de não receber a cura ou mais vida faz a pessoas desmoronar quando a morte se aproxima. Quando se tem fé, o moribundo se entrega aos cuidados de Deus, “aquele que pode nos levar ao nosso destino. (…) Ao verdadeiro sentido de dizer: ‘Seja feita a vossa vontade.’”.

Na parte final do livro, Ana Claudia retoma e comenta os cinco tipos de arrependimento mais comuns entre pacientes no final da vida, originalmente citados pela enfermeira Bronnie Ware. Essa é uma das partes mais propícias à reflexão sobre a vida. São cinco capítulos muito enriquecedores.

“Dizemos que depois do trabalho vamos viver, mas esquecemos que a opção ‘vida’ não é um botão ‘on/off’ que a gente liga e desliga conforme o clima ou o prazer de viver.” ~ Ana Claudia Quintana Arantes

Gostei bastante do livro. Tem uma mistura de poesia em prosa com conhecimento e caminhos para reflexão pessoal. Se alguém quer pensar sobre a vida, deveria começar meditando sobre como ela é um recurso limitado e temporário – pelo menos esta vida.

Sobre o livro

A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver, capa

🙂 🙂 🙂 O livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, com 191 páginas, foi escrito por Ana Claudia Quintana Arantes, publicado pela Casa da Palavra em 2016 e pode ser comprado na Amazon.

11 respostas

  1. Após cuidar de minha mãe, junto à equipe de cuidados domiciliares e paliativos da UNIMED/BH, deparei-me com muitos sofrimentos, dores e conflitos familiares que acompanham a finitude de uma pessoa amada.
    Uma psicóloga indicou-me o livro” A morte é um dia que vale a pena viver”.
    Faz três meses que a minha Mamãe partiu, mas ao entender e vivenciar aquele momento em que a morte, sabiamente, vai nos ensinando a viver, o luto se transforma em amor, serenidade e reflexões.
    LEIAM o livro de Dra. Ana Cláudia e prepare-se para viver melhor.
    PARABÉNS Dra.! Este livro é um presente de Deus para seus leitores.

  2. é um libro muito bom ´triste porque achar que á morte e um dia linde de viver, como eu acharia que o dia de ir embora seria lindo , se estiver sofrendo mé claro é o melhor de acontecer mais para os que ficam acho que não tem dia lindo não.

  3. O livro “A morte é um dia que vale a pena viver” me fez repensar a importancia da vida, como ela é boa. também me faz refletir de como os pacientes às vezes são tratados em hospitais: uns com amor, outros com desdem. A infermidade nos faz frágil, sofredora, angustiosa , este é o momento que precisamos de atenção , de cuidado e carinho.
    Não serveria para ser médica ou enfermeira, porque sofreria juntos com os pacientes, me colocaria no lugar deles .
    “Há acaminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *